Gesto de amor costurado em próteses mamárias
- clararockenbachdas
- 8 de set.
- 2 min de leitura
Atualizado: 22 de set.

Nem sempre o cuidado vem em palavras. Às vezes, ele chega em forma de tecido, linha, e pequenas esferas que cabem na palma da mão. Foi isso que aprendi com as voluntárias da Liga Feminina de Combate ao Câncer de Lajeado ao ajudá-las na confecção de próteses mamárias para mulheres que passaram por uma mastectomia.
Essas próteses são mais do que um objeto: elas devolvem conforto, equilíbrio e um pouco da confiança que a cirurgia tentou levar embora.
O começo: escolher o tecido, pensar no toque

Tudo começa com um pedaço de tecido macio, escolhido com muito carinho, porque ele será o primeiro contato com a pele de quem ainda está se recuperando, física e emocionalmente. A partir de uma tabela de medidas, cortamos o molde com atenção, respeitando as características do corpo que vai recebê-lo.
Costurando com intenção
Com o molde prontinho em mãos, costuramos as bordas e o centro da prótese. As voluntárias ressaltaram que essa parte é essencial, pois ela precisa ter o formato certo para encaixar com conforto no sutiã. Não é só sobre costura, é sobre criar algo que acolha.

Reequilibrando o corpo e o sentir
Depois vem o preenchimento com pequenos pellets de polietileno (um material leve, lavável e seguro). Pode parecer técnico, mas a escolha tem um motivo importante: o corpo naturalmente carrega peso na região dos seios. Quando ele desaparece após a cirurgia, a sensação de desequilíbrio físico e emocional pode ser muito forte.
Esses pellets ajudam a devolver essa sensação de equilíbrio. Já tentaram usar materiais como sagu, mas eles não duram, não podem ser lavados e acabam se tornando um problema. O polietileno, por outro lado, é resistente, higiênico e respeita o que o corpo precisa.
A quantidade exata varia de acordo com o tamanho da prótese, sempre respeitando uma tabela pensada para trazer mais naturalidade e conforto ao corpo da mulher
Para os primeiros dias: leveza que acolhe
No início do pós-operatório, tudo ainda é muito sensível. Por isso, nessas primeiras semanas (geralmente até dois meses), usamos um enchimento mais leve: fibra macia no lugar dos pellets. É uma maneira de respeitar o tempo de cura, sem abrir mão do bem-estar.
Depois, quando o corpo estiver recuperado da cirurgia, a prótese com pellets pode ser usada, ajudando a mulher a se reconectar com seu próprio reflexo.
Os últimos toques e o mais importante
Por fim, costuramos a parte superior com cuidado, colocamos a etiqueta da Liga Feminina e reforçamos a borda para dar acabamento e resistência. Mas o mais importante não é o que está visível.
Cada prótese carrega o cuidado de quem a fez e a esperança de quem a recebe. Ela pode parecer simples, mas representa algo profundo: o esforço coletivo para devolver autoestima, suavidade e coragem a quem enfrenta uma das jornadas mais desafiadoras da vida.
Estar nesse processo me fez perceber que o cuidado pode nascer das mãos. Que costurar, é muito mais do que unir tecidos, é um jeito de reconstruir o orgulho de alguém, de devolver conforto e mostrar presença. Aqui na Liga do Câncer de Lajeado, aprendi que cada ponto é um pequeno ato de empatia.











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